quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Com a licença de Che


Depois de mais de 8h de viagem, estou na regiao centro-norte da Argentina, agora na cidade de Córdoba. Cheguei aqui por volta das 7h40min. e caminhei em direçao ao hostel Córdoba Backpackers, na rua Dean Fuen, 285, na capital da província.
De cara, percebi que havia sido recebido por uma pessoa muito simpática, Ceci. Conversamos um pouco, ela indicou meu quarto, coloquei minhas coisas e desci pra escrever as experiências dos últimos dois dias em Mendoza, de modo que nao esquecesse nenhum detalhe dos dias que haviam sido impressionantes.
Por um acaso quase constante desta viagem, estava com a camisa do SAJU-RS (uso esta camisa porque ela carrega uma frase que me move todos os dias quando levanto para um novo dia de experiências - "Um homem é do tamanho de seu sonho", de Fernando Pessoa) e veio falar comigo um menino que estuda arquitetura na USP, Pedro. Neste momento, ficamos conversando um pouco e ele foi tomar café-da-manha.
Em seguida, voltou e começou a me falar de uma amiga que vive aqui em Córdoba, com quem iria até o museu Che Guevara, instalado na casa em que Che viveu por alguns anos enquanto era criança.
De imediato, me interessei porque era uma das coisas que gostaria de fazer aqui, "pedir permissao a Che para ocupar os caminhos que um dia foram seus", ao mesmo dedicar minhas andanças a sua luta.
Sua amiga chegaria ao meio-dia, depois que tirasse os pontos de uma cirurgia que fez poucos dias antes do Natal. Mas, como demorava um pouco, resolvemos ir comer, depois voltamos ao hostel e ficamos esperando por sua amiga até as 14h30min. Diante do atraso, Pedro tentou falar com ela, mas nao a encontrou em casa. Assim, nao duvidamos em ir logo.
Pedro tinha viagem marcada para Buenos Aires hoje à noite, às 22h.
Pegamos o ônibus muito barato que circunda a regiao metropolitana de Córdoba e em mais ou menos duas horas, desde que saímos do hostel, chegamos a casa em que Che Guevara viveu por 8 anos, enquanto era criança, logo depois que sua família foi aconselhada a sair de Rosário, onde Che havia nascido, para tratar da asma do menino.
Foi emocionante aquele momento! Nao contive a lágrima silenciosa quando ive contato com o quarto do menino Ernestito, com suas fotos de criança, com os livros que lía (Che adorava ler), com sua cama forrada para esperar o menino.
Em mais alguns passos, me deparei com a bicicleta com que Che, aos 22 anos, fez seu primeiro percurso, ainda pelo interior da Argentina, com a "Poderosa" , moto em que Che e Alberto Granado percorreram a América Latina da Argentina até a Venezuela, passando pelo Chile Peru, Colômbia e Venezuela.
Cada sala em que entrava, nao conseguia conter as lágrimas. Me arrepiava e as lágrimas vinham silenciosamente. Mas, quando comecei a conversar com duas meninas que trabalhavam no museu (Verónica e Mirel), me emocionei mais ainda e deixei o choro vir, porque me lembrei dos trabalhos que já fiz, principalmente do trabalho com crianças e adolescentes vítimas de abuso e exploraçao sexual em Foz. Me lembrei principalmente das pessoas que deram suas vidas para que a humanidade pudesse ter dignidade, como Che, e das injustiças que seguem acontecendo. E, me lembrei esecificamente de Foz também porque foi aí que descobri o meu sentimento latinoamericano e foi aí que toda a idéia de estar aqui hoje começou a se formar.
Voltei a percorrer as salas reolhar as fotos, os objetos da casa, e passei por uma sala em que havia fotos de Fidel e de Chaves, quando estiveram por aqui em 2006, pouco antes de Fidel ter os problemas de saúde que o afastaram do governo de Cuba. Nesta sala, passava um documentário sobre este momento e, entre as informaçoes uma me chamou atençao. Dizia o narrador que, segundo um jornal, Fidel teria apresentado seus problemas de saúde devido à emoçao da visita a casa de Che, em Alta Gracia, na província de Córdoba.
Nao sei bem se isso tudo era verdade, mas que, de fato, era emocionante, isso era. Especialmente, quando entrávamos na sala em que passava um vídeo com entrevistas de pessoas que conviveram com Che, como a cozinheira da casa, naquele momento do vídeo, com 88 anos de idade, cujo nome lamento nao recordar. Segundo ela, o menino Ernestito era desde muito cedo a representaçao da solidariedade, da humanidade, do respeito pelas pessoas. Mas, o mais lindo de tudo isso foi ouvir: hoje, todos os chamam de Che, mas para mim, vai ser sempre Ernestito.
Fiquei por vários momentos pensando em tudo o que via e ouvia... pensava que a luta nao podia parar, pensava na situaçao de dar a própria vida pela justiça social... me emocionava.
Por quase uma hora conversei com as meninas do museu e, depois com Pedro, falávamos com Albina, uma senhora encarregada dos trabalhos nos finais de semana e feriados no museu. Albina foi uma linda surpresa!
Falava com carinho de seu trabalho, de sua dedicaçao ao museu como forma de respeitar a memória de Che. Ao mesmo tempo, queria ouvir sobre os motivos que nos levava àquele lugar, se estávamos fazendo outras viagens.
Quando comecei a falar dos sem terra, das crianças e adolescentes... dos motivos e dos lugares em que iria passar e já tinha passado, Albina já estava tocada pelo (re)encontro, pelo (re)conhecimento que teríamos naquele momento. Ela também aceditava que, na vida, as pessoas se (re)encontram, se (re)conhecem. E reforçou ainda mais isso quando lhe falei da Jerónimo e de Jaél.
Ao sairmos do local, ela nos desejava boa sorte, um lindo percurso, desejava força para lutar e, acima de tudo, que pudesse voltar um dia aquele lugar.
Saí muito emocionado e comprometido com a cordenadora do museu de tentar conseguir uma cópia do vídeo sobre a morte de Che na Bolívia feito por um cineasta boliviano que vive em Salvador, conhecido de Sara, prima de Ize, para mandá-lo ao museu. Ao mesmo tempo, lhe falei de um casal que fez o percurso de Che para ver a possibilidade de terem esse vídeo no museu.
Quanto a este último, ele disse que já sabia de sua existência, de que o casal havia estado lá para gravar algumas cenas, mas que nao tinha nenhuma cópia.
Enquanto conversava com Adda, cordenadora do museu, olhei para o relógio, vi que eram 19h e lembrei da viagem de Pedro para Buenos Aires, às 22h.
Tínhamos que voltar imediatamente, embora ele estivesse ainda muito entretido com as histórias, com a leitura dos escritos e dos relatos que estao guardados em Alta Gracia.
Pegamos o önibus para Córdoba às 19h15min. e chegamos às 20h30min no hostel. Pedro se organizou para viagem, mas nao achava a passagem. Ficou muito nervoso e resolveu tentar uma segunda via, principalmente, porque a passagem, aqui na Argentina, é emitida com o nosso nome, com o número do nosso passaporte.
Espero agora que esse grande companheiro, outro bom encontro, nao tenha problemas para viajar.

2 comentários:

taís disse...

enviei para o teu email, mas dizem que a conta nao existe e retorna. espero que veja a mensagem a tempo

hola, chicos!

marquei o hostel backpacker's salta, duas camas para vocês no sábado. chego no domingo e já deixei meu quarto reservado. o endereço é buenos aires, 930, telefone (0387) 4235910. eles buscam no terminal de ônibus
gratuitamente: www.backpackerssalta.com

humberto, vai para lá. prometi cozinhar ravioles quando chegar.

beijos,
taís

lucas alcantara disse...

Olá Betinho....rsrsrs..(pelo menos, foi assim q o conheci)
Desfrutando o passeio???
Então camarada, sem querer te atrapalhar, mas quando é que tu retorna a cidadezinha aracajuana???
Queria entrar em contato contigo.Ok???
César....ou Berô.kkkkk...
Bons DIas ai pra vc!!!!!