sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Córdoba, a cidade do calor

Apesar de ontem ter feito muito calor durante o dia, hoje foi um dia menos quente. Pude caminhar pela cidade durante mais de 6h, conhecer os monumentos históricos, conversar com alguns hippies na rua...
Mas, o dia começou com uma tentativa de conhecer novas pessoas. Afinal, tinha compartilhado um dormitório e nao conhecia as pessoas que estavam no quarto. Eram pessoas que falavam espanhol e isso também facilitava a aproximaçao.
Quando comecei a falar com eles, logo descobri que um era francês e estudava espanhol no Chile e os outros dois mexicano e equatoriano. Depois de se conhecerem no Chile, estavam viajando juntos e, hoje, iriam para Salta.
Depois que se foram, tomei um bom banho e fui caminhar.
Córdoba é uma cidade que mescla bem o novo com o antigo. Ao mesmo tempo que tem igrejas, praças, monumentos... muito antigos, têm prédios com arquitetura bem contemporânea e, alguns casos, uma mistura, no mesmo lugar, de arquiteturas, como o "Paseo del Buen Pastor", colocado no que era uma antiga igreja.
Me chamou atençao um movimento de cunho militar, inclusive com a participaçao de pessoas com farda da força aérea argentina, reivindicando mais açao do governo em relaçao às Ilhas Malvinas. Passavam filmes, vendiam pins e mostravam o seu manifesto contra a Inglaterra e contra o governo argentino.
Segui caminhando e, mais tarde, me deparava com muitas pessoas sem condiçao financeira digna na frente de uma fundaçao católica de ajuda, que ficava em um prédio vizinho à Igreja da Companhia de Jesus (Jesuíta) em Córdoba.
Enquanto via os escritos nas paredes da Igreja ("mi cuerpo es mío"; "asesinos") e depois de refletir um pouco sobre a construçao católica cheia de outro e prata, mas que seguia com caixas para doaçao em toda a Igreja, fui abordado na rua por um senhor. Ele queria dinheiro. Como nao lhe dei, ele começou a conversar. Queria saber o que eu fazia, de onde eu era. Quando lhe disse que era advogado e que era do Brasil, ele queria saber onde eu teria um escritório em Córdoba para que ele fosse aí conversar comigo...
Foi difícil explicar a ele que nao posso trabalhar como advogado em outro país e que as leis nao sao iguais. Aliás, se o direito é universal, porque muda de um país para o outro? A resposta para essa pergunta segue mal elaborada pelos positivistas.
Como acredito que o direito é uma construçao social, histórica e cultural, ademais de ver na Argentina um lugar em que o direito libertador está muito presente, nao sei porque nao podemos dialogar com base em uma filosofia única, a da justiça social.
Bom, o fato é que, depois de explicar ao senhor as particularidades de minha profissao, segui... tinha necessidade de conhecer a cidade e de sentir suas pessoas.
Com este propósito, meus olhos e minha mente ficam mais concentradas nos comportamentos alheios e esqueço um pouco dos meus. Já tinha percebido um senhor tocando lindamente saxofone sem que ninguém lhe desse importância, ou seja, vítima da indiferença humana, já tinha visto esse mesmo homem receber a atençao exclusiva de uma criança que o olhava e o ouvia enquanto tocava..., já tinha presenciado pessoas desenhando, pintando na rua, quando em um momento de distraçao, bati a cabeça em um toldo muito baixo e quase desmaiei. Na hora, vi que uma senhora apenas disse: OOOOOOOO.
E, eu, rapidamente pus a mao na testa para ter a certeza de que nao havia sangue e de que nao me subisse um galo. Passei horas massageando até que vi que tinha uma marca enorme na testa (hahahahahahaha).
Bom, mas isso nao me abateu... segui caminhando. Mais adiante, encontrei um casal de hippies na rua. Eles vendiam pulseiras e colares e eu queria saber onde podia comprar malabares. Por algum tempo, conversamos e voltei ao hostel.
Estava muito cansado, mas precisava lavar roupas. Neste momento, conheci Hanna. Uma menina da Austrália que vai ficar viajando sozinha por 11 meses. Ficamos conversando um pouco e depois fui lavar a roupa. Enquanto lavava a roupa, vi que dois israelenses me olhavam, conversavam entre eles e sorriam. Nao sei o que diziam e nem se falavam de mim. Mas, isso, no mínimo, é uma falta de educaçao. Pelo modo como me observavam e sorriam, eu fiquei muito desconfiado de que podiam estar falando de mim, talvez, de que lavava a roupa e que eles, em seu país, nao fazem isso... nao sei... nao posso especular.
Depois disso, desci e fiquei conversando com Laura, ao menina que trabalha na recepçao do hostel no período da tarde e da noite. Como vi que Laura tinha trabalho, me aproximei de um carinha que estava só. Se chamava Mauricio e era do interior da província de Córdoba mesmo.
Por um instante, fomos a praça caminhar um pouco e voltamos. No caminho, muito empolgado com sua cultura local, Mauricio comprou um CD de um grupo local e queria voltar rápido para escutá-lo.O mais engraçado desta história do CD é que o compramos em uma loja que vendia o original e a cópia. Inclusive, procurei saber o preço de um de CD de Joaquín Sabina e a mulher me ofereceu a cópia pela metade do preço. se quisesse. Nunca pensei que isso fosse me acontecer um dia.
Enquanto caminhávamos, Mauricio e eu, também foi lindo ver algumas crianças e adolescentes apresentavam um pouco da cultura gaucha (toma o sul do Brasil, o Uruguai e uma parte da Argentina). Era bonito, mas Mauricio queria voltar para ouvir o CD e acabamos indo embora.
Ouvimos e CD e ficamos conversando. Depois, quando fui tomar banho percebi que minha toalha, uma que me presenteou Dona Maria, avó de Pablo, com meu nome bordado ao lado dos símbolos e das letras do MST, tinha sumido. Procurei muito, mas nao achei. Como todas as demais toalhas tinham sumido do cabide que ficam no quarto, suponho que a pessoa que limpa tenha tirado todas pensando se tratar de uma toalha do hostel.
Diante do calor, nao podia esperar até que achassem. Peguei uma toalha da hospedaria e tomei um banho completo. Era a única forma de passar o calor que aumentou significativamente no período da tarde e da noite.

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