sábado, 19 de janeiro de 2008

Outro dia sereno

Buenos Aires nao é nada serena se a olhamos do ponto de vista de seus moradores e pessoas que se relacionam em meio a suas ruas, avenidas e esquinas. É intensa, rápida, plena de gente que vai e vem como se fora tudo programado para ontem, como dizemos para referenciar algo de muita urgência.
Eu, ao contrário de tudo isso, estou parado... estou pensando... vivencio o retorno antecipado, como já disse, para absorver, ainda que inconscientemente, as experiências de todo o percurso.
Neste sentido, vivenciei um outro dia apenas de contemplaçao, embora, como no dia anterior, fosse preciso realizar algumas açoes para a continuaçao da viagem stricto sensu, porque a viagem, de fato, nunca terminará.
Ir ao banco, procurar passagens e outras formas de chegar ao Uruguai, foram as açoes que me tomaram pela manha.
À tarde, depois de um breve almoço, sob o sol, em um banco do calçadao de Puerto Madero, liguei para Sergio e Susana, com o intuito de que organizássemos um novo encontro para a noite, e resolvi rever a Boca.
Pensava em chegar até o estádio do Boca Juniors, mas quando percebi que aquele lugar, mais que em 2005 quando estive em Buenos Aires pela primeira vez, as vielas haviam se tornado um grande comércio, inclusive de tango, nao havando nada mais do comprar como atividade.
Em fuga das compras, perdi o ânimo para estar na Boca e tentar chegar até o estádio do Boca Juniors. Percebi que os motivos que movem as pessoas a estes lugares nao sao compatìveis com os meus.
Voltei para o meu abrigo: o Clan. Aí sim, de alguma forma, me sinto mais preenchido. Ao chegar no hostel, minha cama (meu colchaozinho no chao de um quartinho no fundo), tinha sumido.
Preocupado, desci para falar com Nacho. Sua resposta foi que já tinha um lugar digno para que eu permanecesse. E, me mostrou uma cama num quarto no primeiro andar.
Por se tratar de um quarto com muita gente, pensei muito antes de fazer a escolha, mas, como nao tinha como retornar ao meu lugar, que já estava preenchido por outras três pessoas, acabei aceitando. As outras opçoes eram ainda piores. Quartos muito mais próximos do bar e do barulho das festas do Clan.
Em seguida ao aceite, antes mesmo de descer as minhas coisas para o primeiro andar, fiquei ajudando Nacho a dobrar os mapas que se entregam aos cleintes. Fazia parte (e faz parte) de meu modo de refletir, realizar trabalho com as maos.
Por quase duas horas, dobrei e dobrei, juntamente com os mapas, meus pensamentos. Às vezes, nao sei nem em que pensava, em que lìngua, mas deixava a fluidez da minha mente se encarregar do quê e de que modo se espraiar.
Enquanto estava ali no meu trabalho, conversava sobre vários assuntos com Nacho e, em algum momento, ele me prometeu um desconto nas minhas estadas. Me cobraria o preço anterior à alta estaçao, pelos motivos de estar no colchao e por ter contribuído com a casa.
Fiquei feliz com isso, mas, ao mesmo tempo, apreensivo. A recepçao tem muita rotatividade, podendo ser que, no instante em que registre a minha saída, amanha, antes de ir para Montevidéo, Nacho nao esteja e toda a promeça se perca.
Bom, mas de qualquer forma, já valeu pela simpatia e pelo reconhecimento me foi despendido com a promessa.
Durante a conversa e a dobradura, chega também Vinícius. Ele queria ir para o terraço conversar. Mas, já tinha assumido o comprisso de dobrar os mapas. Faltava pouco e nao gosto de deixar as coisas que começo pela metade. Pedi, em vao, que ele esperasse um pouco.
Ele foi sozinho. Paciência!
Em seguida, desci com as minhas mochilas, me instalei no quarto e fui para a sala de televisao. Estava passando um filme na Warner Bros terrível. Uma completa propaganda ideológica comprada pelas pessoas de origem nórdica que assitiam à TV antes que eu chegasse.
À custa de encontrar supostos terroristas, o filme justificava a tortura como método de obter informaçoes; justificava o homicídio de suspeitos; defendia a esquizofrenia coletiva e a construçao de panóptipos sociais, através do incentivo à delaçao de comportamentos suspeitos promovidos por determinados segmentos étnicos. Era uma completa barbárie.
Quando permaneci só, tratei de mudar de canal. Queria ver esportes.
Até chegarem uns israelenses que nao paravam de falar (muitas vezes, os hebreus adotam uma série de comportamentos anti-sociais e, por isso, nao sao bem aceitos em hósteis), assisti ao basquete NBA. Depois, a todo momento, queriam mudar de canal, queriam assistir a outras coisas...
Fizemos um acordo quanto a mudar do basquete para o tênis, mas os três (dois rapazes e uma menina) nao paravam de falar.
Ansioso porque Suzana e Sérgio nao me ligavam e sem conseguir ver nada mesmo, resolvi deixar a sala de TV e ir para o computador tentar algum contato com os amigos que conheci durante a viagem da fronteira da Argentina com a Bolívia até aqui.
Havia um e-mail de Suzana informando que o telefone que tinham do Clana nao estava funcionando.
Deixei um novo e-mail dizendo que já estava tarde, convidei para que passássemos o dia juntos e fui dormir.
Tratando-se de um quarto muito movimentado, esta foi uma tarefa muito difìcil, mesmo com protetores de ouvido. A cada batida de porta, nao apenas extremecia as paredes. Minha cabeça tremia junto.

Um comentário:

taís disse...

oi amadinho

tá tudo tão corrido aqui, vim dar uma olhada no teu blog e me deu A Saudade. resolvi esperar para ler tudo com calma, junto com o mate.

não esquece que o uruguai é bem barato, compensa a passagem do buquebus. tu vai amar colonia e montevideo.

beijão, taís