quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O vento baila em Montevidéo - 20 de janeiro

Às 6h30min. da manha me despertei para enfrentar uma nova viagem. Agora, em barco até a cpital do Uruguai, Montevidéo.
Esperava uma nova jornada cheia de novas pessoas, mas traqüila em sua passagem, sobetudo, pelo cansaço físico que já começa a se estabelecer. Afinal, têm sido dias e dias de caminhadas, saídas em bicicleta...
Até perto de 8h esperei a chegada de Nacho no Clan, de modo que pudesse saber se o desconto que me havia prometido se efetivaria. Foi em vao. Ele nao chegava e tive que regitrar a minha saída com Max.
Este só me abateu o valor dos dias em que dormi no chao, ou seja, o valor de duas noites.
Registrada a saída, tomei o rumo à pé do porto em que pegaria o barco para o outro lado do largo Rio da Prata.
No domingo pela manha, Buenos Aires ainda dormia linda e calma. O silêncio era violado apenas pelo cantar de alguns pássaros ou, raramente, por algum automóvel. Era possível apreciar, ao rescente nascer do sol, suas ruas e avenidas completamente vazias de pessoas e plenas de história e de arquitetura.
Com quase 20kg nas costas, depois de 20min. de caminhada, cheguei ao local de saída do barco, em que passei quase 30min. esperando para tirar as mochilas, fazer a emigraçao da Argentina e fazer a imigraçao no Uruguai, tudo no mesmo lugar, numa zona internacional do Porto.
Saído o barco, depois de 3h de convivência com o mundo elitizado dos free shops, das madames e cavalheiros enlouquecidos por perfumes, produtos eletrônicos, comidas de "fino paladar", cheguei ao porto de Montevidéo.
Nao havia nada aberto. Nenhuma informaçao possível. Tentei encontrar um meio com uma mulher da empresa que faz a travessia, mas ela, muito grossa, me pediu que pegasse um táxi ou perguntasse a algum motorista de ônibus.
Resolvi sair do porto e buscar; por mim mesmo, os detalhes de como chegar aos inúmeros endereços de hostéis que, por sorte, havia buscado na internet no dia anterior.
Na saída, um marinheiro e uma recepcionista. Fui em direçao a eles, mas ninguém sabia do que se tratava um hostel ou hostal (coo se costuma chamar em alguns lugares de fala espanhola). Quando apenas indiquei os endereços para os quais gostaría de ir, tudo ficou fácil. E, melhor, pude ter as informaçoes das regioes por onde nao passar, tendo em vista a existência de pessoas que podem cometer furtos e assaltos.
Caminhando pelas lindas ruas, também vazias naquele domingo, do centro antigo de Montevidéo, era como se outro novo se me abrisse. Ao mesmo tempo em que via a arquitetura e o formato das cidades do sul brasileiro e de Buenos Aires, via a sigularidade, via a Montevdéo, apenas.
Até que tive estes sentimentos cortados pela gravaçao de um filme. Tendo algumas ruas cortadas, carregando peso, tive que fazer arrudeios e mais arrudeios, portando, sair da rota traçada pelos únicos informantes que encontrei.
Passava por uma rua, o filme, outra rua, outra cena do filme, uma praça, mais filme...
Depois de caminhar mais de uma hora, cheguei, quase morto, ao Che Lagarto, na praça da Indepedência, sede do governo Uruguaio. Acertei minha entrada, tratei de escrever algumas coisas e saí para comer alguma coisa.
De pronto, percebi que Montevidéo nao é uma cidade barata como me diziam. Para comer qualquer besteira, sempre gastava o equivalente a R$ 9,00 ou R$ 10,00, quando, por esse preço, é possível almoçar em alguns lugares de Aracaju.
Em seguida ao "almoço", fui caminhar. Estava morto, mas queria conhecer a cidade e, para isso, só caminhando.
Por quase 4h percorri, ida e volta, uma avenida que corta a cidade desde o centro antigo até a parte nova de Montevidéo.
O sol era forte, mas o vento frio bailava sobre a cidade tranqüila. O céu azul me ajudava a olhar com mais vigor para as fotografias que a cidade me proporcionava de suas cúpulas, de sua gente, de suas fontes e de suas inúmeras estátuas de cavalos (como podia e esquecer que aqui o que mais tem é estátua de cavalo?).
Via crianças brincando (aproveitando as praças), casais namorando... eu me perdia nas brincadeiras das crianças...
Enquanto voltava, quase sem forças nas pernas, encontro, numa praça, um grupo de pessoas idosas , ao som do tango de baile (mais lento e menos caras e bocas), dançando, arrodeado de outros idosos. Era lindo!
Naquele momento, era como se Montevidéo dançasse para mim, bailasse, empurrada pelo vento fresco, e fizesse, com o seu movimento, bailarem aquelas pessoas. Eram quase 21h e o céu ainda tinha um resto de sol.
A poesia foi apenas interrompida pelo desejo incontrolavel de ir ao banheiro. Queria fazer xixi, mas estava tudo fechado, tentava encontrar um lugar, mas tinha polícia, tinha gente...
Mesmo assim, queria, ainda, aproveitar o pôr-do-sol na beira do Rio da Prata, antes do seu encontro com o mar. As gaivotas faziam no céu, em homenagem ao dia que jazia, um outro baile.
Com aquelas imagens , voltei ao hostel, queria tomar um banho, sair para comer algo e dormir.
Quando cheguei no hostel, encontrei, no mesmo quarto que eu, um grupo de três brasileiros, dois de Minas Gerais, estudantes de direito, e um do Rio de Janeiro, formado em Economia.
Saímos juntos para comer e conversar. Mas, nao fomos muito longe. Depois de nos sentirmos ameaçados por um cara que nos seguia e pedia dinheiro, no calçadao do centro antigo de Montevidéo, acabamos parando em uma pizzaria. Neste lugar, encontrei saladas e suco. Tudo o que eu precisava, depois de dias sem me alimentar bem.
Enquanto comíamos, nao sei em que momento, surge a conversa sobre Direitos Humanos, políticas públicas, direitos do trabalhador...
Para Conrado, o economista, e para Yuri, um dos estudantes de direito, os encargos sociais e os direitos dos trabalhadores, precisavam ser relativizados. Segundo eles, é muito caro manter os postos de trabalho e, cortar direitos seria uma forma de aumentar o número de empregos formais.
Evidentemente, discordei dessa posiçao, acompanhado por Abertino, formando em direito. A exploraçao do trabalho, como melhor pode ser chamada a relativizaçao dos direitos trabalhistas, jamais será uma garantia de emprego. No atual estado de coisas, exige-se um padrao de trabalhador e trabalhadora altamente qualificados e dispostos a ganhar menos. A populaçao de "sobrantes", pessoas que nao tiveram oportunidade de estudar e nao têm "lugar" de trabalho possível, continuará sem emprego em qualquer circunstância, salvo uma açao direta do Poder Público para a criaçao de condiçoes (cooperativas, associaçoes) para que, grupos humanos, completamente excluídos de condiçoes dignas de vida e de trabalho, possam encontrar sua vocaçao.
Para completar estas idéias, levantei ainda o argumento de que a economia precisa enxergar as pessoas, antes de mirar os interesses das empresas.
Sob este tema de discussao, comemos e nos dirigimos para o hostel. Mas, enquanto fui dormir, os três resolveram sair para um barzinho e tomar algumas cervejas.

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