terça-feira, 25 de dezembro de 2007

25 de dezembro - uma manha que se despertava pensativa

Acordei perto das nove horas com os pensamentos pululando. Quando desci do quarto, percebi que todos estavam igualmente pensativos.

Era um silêncio impressionante! Todos estavam visivelmente inebriados com a noite anterior.

Por diversas vezes, tentei sentar ao computador para escrever. Mas, nao conseguia. Queria estar o máximo de tempo com as pessoas. As meninas da Alemanha já iriam ao meio-dia. E, enquanto comíamos, soube que também Michael sairia a pedir carona hoje no período da tarde até o norte do Chile.

Enquanto comíamos, todos calados, parecia que as pessoas nao queriam que o tempo passasse. O silêncio foi rompido quando Michael comecou a brincar com Patricia e Montana. Em algum momento, eu podia entender tudo o que diziam em inglês ou, no mínimo, supus que compreendia. Era como se o universo nos desse a oportunidade de falar e se compreender tudo o que todos diziam em nome de nosso compartilhar.

De repente, todos saíram e ficamos só eu e Janna na sala de janta. Ela parecia nao saber como dizer, mas quiz dizer e, de uma só vez, expressou que a noite de ontem tinha sido muito rica de novas experiências. Completou dizendo que nunca tinha passado um Natal tao lindo.

Foi quando voltaram Montana e Patricia querendo que copiasse a letra da música do "EPO". Elas queriam aprender para fazer na Alemanha e em outros lugares por onde passassem. Nao tive dúvidas. Compartilhar essas formas de integracao de grupo é fundamental para que as pessoas possam se encontrar.

Mais um pouco e veio Marcel me dizer que o Natal tinha sido incrível. Segundo ele, havia muito anos que passava tao bonito. Em seguida, me deu um abraco e me agradeceu pela música, pelo compartilhamento... mas, na verdade, eu que deveria agradecer por encontrar a essas pessoas. Elas me deixam poético, rico de beleza, de espontaneidade, de alegria no coracao... é tao bom quando podemos sair do nosso mundo particular e se sentir povoado das pessoas...

Pensando nisso, tentei mais uma vez, escrever. Enquanto isso, veio Michael e comecou a conversar comigo. Aproveitei o fato de estar no computador e lhe mostrei fotos de Aracaju e de Sergipe. Ninguém conhece Aracaju, que parece estar fora do mapa. E, o que queria era encher Aracaju das boas pessoas que vou encontrando pelo mundo.

Bom, como nao só de belezas vivemos nós seres humanos, terminamos de comer e ficamos por aí. Em um pouco, as meninas da alemanha saíram para organizar as coisas de sua viagem e eu Germán ficamos conversando sobre um cara que havia estado no hostel duas semanas atrás que roubou um rapaz dos EUA. O pior de tudo é que o cara, Eduardo Perez (tem um blog com gente foi golpeada por ele em várias partes que deve ser divulgado - eduardo-perez.blogspot.com), que dizia ter trabalhado na ONU e que conhecia muitos lugares... acabou se fazendo amigo do americano que estava no hostel e lhe prometeu carona... enfim, deixou o cara num pequeno "pueblo", lhe tirou $ 1.000,00 (mil dólares) e se foi.

Germán estava muito preocupado que passasse isso de novo com pessoas do hostel. Ele queria que todos soubessem do caso, olhassem a foto do cara, inclusive fotos que ele tirou numa festa no hostel quando o cara estava por aqui.

Para que organizasse as pessoas, me pediu ajuda. Enquanto falávamos sobre isso, chegaram as meninas da Alemenha. Germán falou sobre o cara, mostrou as fotos e, enquanto isso acontecia, as meninas diziam conhecê-lo daqui mesmo. Que ontem, enquanto estavam no mercado de peixes, foram abordadas por ele, que queria dar-lhes carona para onde quisessem ir.

Todos ficaram muito preocupados, temerosos... eu, com isso de encantar-me muito fácil pelas pessoas...

Passou...

Era hora de as meninas irem embora... Germán fazia fotos de todos, das despedidas, dos abracos... eu considero essa a pior parte, principalmente, quando a gente encontra nas pessoas o que estava buscando.

Com muito lamento, me despedi de Janna, Patricia e Montana e me lembrei que nao se pode "ter" as pessoas para si mesmo. Cada um precisa fazer sua caminhada.

Mais tarde, ficamos só eu e Germán no hostel, enquanto Michael tinha ido telefonar para casa, Tim, caminhar pela rua, Marcel e Suzanne, também. Neste momento, Germán e eu recordávamos a noite de Natal e como as pessoas estavam meio paradas pela manha. Como tinha sido intenso o momento em que todos estávamos juntos, falando de coisas importantes para nossos países, inclusive, dizendo "verdades" sobre as relacoes que mantêm os governos, muitas vezes, de exploracao. Tudo isso, sem desrespeitar as pessoas.

Comemos, lavamos os pratos e comecamos a conversar sobre cinema. Germán me mostrava alguns documentários que possui, quando Marcel, Suzanne chegaram. Demorou alguns minutos e Michael voltou para pegar sua mochila, a placa que havia feito para pedir carona e se despedir da gente.

Este fora um momento muito emocionante para mim e para Germán que falávamos de como Michael é gente boa. Tiramos fotos, trocamos enderecos de correio eletrônico... quando Michael nos escrevi seu e-mail, percebi que havia um e-mail da universidade de Oregon. Perguntei o que fazia e ele disse: Antropolgia. Gosto de gente.

Só isso já seria o bastante para compreender o porque de Michael ser aquela pessoa tao interessante, com tanta curiosidade sobre a história e os modos de vida dos outros povos.

Lamentei muito a ida dele. Creio que Germán também, apesar de etar acostumado com as pessoas que vêm e vao. Mas, a vida precisa seguir seu rumo. O rumo das nuvens que vêm, fazem brotar o solo e se vao para outras partes promover novas semeaduras.

Foi um encontro de vida muito rápido, de menos de um dia, mas o suficiente para ter minha vida marcada para sempre.

Agora, há pouco, outra coisa foi importante neste dia. Conversava com Germán mais uma vez sobre a importância das pessoas que passaram por aqui ontem, quando ele recebeu uma mensagem no celular de uma amiga da Holanda. Ela lhe dizia que o amava. Porém, nao contava que Germán conseguisse compreender tao rápido, porque havia escrito holandês. Como Tim está aqui. Foi possível para Germán ter a mensagem traduzida e saber que era querido, que tinha alguém na sua vida com quem se preocupar.

Agora, Germán está mais descontraído, ainda que nervoso, ansioso por voltar a vê-la. Pior, isso só vai poder ocorrer no final de janeiro, quando se encontraram fisicamente em Santiago.

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