domingo, 16 de dezembro de 2007

Um domingo para conhecer o que normalmente os turistas nao conhecem

Ontem, depois que falei com Horacio, ele disse que vinha me buscar hoje pela manha para sair com suas família e percorrer a cidade de Buenos Aires. Ele queria me dar um panorama completo da cidade, inclusive me mostrar as injuticas sociais de que, normalmente, os países da América Latina padecem de forma muito semelhante. Me falou muito de relacoes de favor, de como o governo faz programas compensatórios sem modificar a vida das pessoas...

O pior dessa conversa é que ele chega a conclusoes um pouco preconceituosas. Para ele, com tantos programas sociais, as pessoas nao querem trabalhar e preferem ficar comodamente as expensas do governo. Essa é uma típica fala de quem está movido por uma simplificacao inexata dos problemas sociais, de quem faz uma leitura fundado em pressupostos liberalistas, segundo o que a pobreza é uma doenca provocada por cada um que está submetido a ela. Talvez, ele nao perceba a violencia de que se compoem os discursos para justificar a manutencao das relacoes desiguais, bem assim, para negar-se a promover um debate profundo sobre a igualdade. E, ainda, nap percebeu que o capitalismo necessitava formar uma grande populacao de "sobrantes", pessoas que, mesmo que queiram, nao vao ter trabalho.

Inclusive, passamos por um Igreja, chamada de Igreja de San Calletano, o santo a quem as pessoas pedem trabalho. Segundo Horacio, a festa para este santo ocorre em 07 de agosto, mas um mes antes, em 07 de julho, as pessoas já estao acampadas nos arredores da Igreja. Esta é a prova de que nao é que as pessoas nao querem um trabalho, o problema é que nao tem formacao e oportunidade para fazer alguma coisa por sua propria sobrevivencia. Porém, sua única esperanca, no mundo dos" sobrantes", é a mao de Deus.

Bem, a parte isso, o melhor é que me fez ver coisas que eu sozinho, com as informacoes que tenho a partir do hostel, nao conseguiria conhecer, como um lugar pleno de prédios em que as pessoas vivem submetidas aqueles promovem o tráfico de drogas, excluídas social e moralmente.

Depois, ele me levou para ver uma favela, que, aqui, eles chamam de "villa". Esta, em especial, estava na margem do Rio Riachulo (segundo ele o rio mais poluído do mundo). Um lugar completamente isolado do centro de Buenso Aires, cujas casas eram todas de plástico e papelao. Nao havia esgoto, coleta de lixo (o que contribuía para mais poluicao no rio) ou qualquer outra condicao digna de vida. O estado nao se faz presente, de certo, através de políticas públicas necessárias para uma vida com dignidade. Mas, com certeza, a polícia está aí.

Olhando aquilo desde o outro lado do rio, pensei em como poderiam sofrer com o
frio no inverno e em outros momentos do ano, como agora, que Buenos Aires tem temperaturas mais baixas.

No caminho também vi muitas pessoas catando papelao ou vivendo em pontes e nas ruas, embaixo de marquizes, cobertas com papelao ou com um pequeno cobertor. Quase todas estas pessoas tem fisionomia da gente do norte da Argentina que, por sua vez, é muito parecida com os indígenas de Bolívia e Peru. A mim pereceu que aos italianos e alemaes que para cá vieram ficaram todas boas condicoes de vida, enquanto aos indígenas se separou todas as más conseqüencias da economia voltada para a exclusao de uma parte da sociedade.

No caminho também passamos por San Isidro (um bairro nos arredores de Buenos Aires), um lugar que contrastou com o que vi antes. Só havia casas ricas, concessionárias de lanchas, carros importados... até um hipódromo muito luxuoso havia aí.


Depois viemos para o centro da capital e ficamos rodando para ver alguns monumentos e conhecer um pouco da história de Buenos Aires. Em frente ao congresso nacional, que se parece como o congresso norte-americano, paramos para comer. O gracon era um típico jovem portenho. Falava com a boca fechada e muito rápido. Nao se entendia nada! Ainda, parecia que nao queria fazer esforco para enteder as pessoas. Pedi uma coisa e me trouxe outra. Bom, de qualquer forma, quando percebeu o erro, foi gentil e trocou o prato.

Depois, vim para o hostel e fiquei conversando com os brasileiros, Fernado e Leandro. Até escutar Los Hermanos escutei, imagine!

Também, conheci Silvana, uma menina que trabalha no hostel. Ficamos falando muito sobre varias coisas e lhe contei a intencao de minha viagem. De repente, em algum momento, percebi que o melhor era ficar calado e simplesmente vivenciar meu projeto. Nao ficar falando com as pessoas sobre isso. Elas podem nao compreender e me tacharem de louco.

Bom, mas Silvana parecia muito gente boa. Ela me disse uma coisa muito interessante quando lhe disse que gostava muito da menira como os Argentinos interegiam na rua com eles mesmos e com as pessoas. Segundo ela, os argentinos tem ciúmes de nós brasileiros poque somos todo o tempo felizes. Estamos sempre sorrindo, cantando, dancando... um reforco ao cliche que nos impuseram.

Quando Silvana saiu para a feira de Matadero com um cara da Irlanda, fiquei conversando com Fernando sobre ciencias sociais (Fernado faz um mestrado em ciencia política na UFPE). Em seguida, fomos os dois para a feira de San Telmo. Vi muitas coisas interessantes, artesanatos, pessoas muito alternativas, muita música de boa qualidade.

Neste lugar, duas coisas me marcaram. A primeira delas foi um homem que tocava uma flauta artesanal. Estava só, no meio de uma das ruas. Parecia querer agradar as pessoas com sua música, mas nao era tao boa e, o desespero para conseguir algumas moedas era presente. Seus olhos azuis e grandes, estavam estufados e olhava a todos como se pedisse para escutar sua música.

A outra foi que havia um grupo de jovens tocando percussao. Eram muito bons. Quando fui tentar tirar uma foto, um homem me impediu de colocar a mochila no batente de sua loja para ajeitar a camera. Depois, quando estava tudo certo, uma mulher passou na frente da camera e, eles pararam de tocar. Mas, o importante é que emocao ficou guardada em minha cabeca.

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