segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

O último dia do ano - pronto pra recomecar

Depois de uma noite de muito calorenta em Mendoza, acordei bem cedo. Era preciso conhecer Mendoza. Caminhar...

Estava cansado depois de alguns dias sem dormir direito e de ter, pela primeira vez, saído à noite durante esta viagem, mas queria conhecer a cidade. Queria circular pelo lugar sentir seu povo.

Às nove me levantei, mas deixei pra sair perto de meio dia. Caminhei por um tempo com Cèdric em busca de uma lavanderia para ele e, depois, quando ele voltou pro hostel, segui minha caminhada.

Foram quatro horas e mais de 12 km de andancas. Resolvi ir até uma colina um pouco distante da cidade com o intuito de ver a cidade de cima e de ter contato com a cordilheira dos Andes.

Ao chegar no pé da colina, percebi que o espaco estava tomado por um condomínio fechado de casas de luxo. Fiquei pasmo ao saber que para visitar um patrimônio pertencente à cidade, era preciso falar com os segurancas do condomínio. Mas, nao desisiti. Depois de caminhar tanto, teria que ser recompensado.

Da entrada do condomínio até o topo do "cerro", mais uns dois quilômetros. O sol era muito quente. Eu tinha uma sensacao de que a cabeca estava comprimida, de sufocamento...

Perto de 5h consegui chegar no hostel. Nao parecia estar bem... sabe aquele jeito quando a gente come algo que provoca certos revertérios? Pois é... parecia que a comida do dia anterior comecava a fazer efeitos indesejáveis.
Evidente, busquei aquilo que mais precisava naquele momento e fiquei rodando pelo hostel,conversando com o pessoal que está aqui, que é muito divertido, até que encontrei com Javier, un ator, também administrador de empresas que agora trabalha no ministério da economia da Argentina.

Por muito tempo, ficamos falando da política em nossos países e das contradicoes de nossos governos. Mas um com quem pude conversar as contradicoes dos pseudogovernos de esquerda na América Latina neste momento da história.

Para ambos, de alguma forma temos esses governos é uma forma de relativizar os projetos neoliberais que faziam de nossos países espacos de subserviência mundial, lugares de mera exploracao estrangeira, sem políticas sociais ou alguma preocupacao que seja com as populacoes. Com esses governos, de alguma forma, os discursos de direitos humanos, de republicanizacao... comecou a ser feito de alguma forma diferente da maneira como se fazia antes, meramente privada, a partir de uma relacao doméstica.

Em seguida, comecei a falar um pouco com Germain e fui tomar um banho. Queria comer e sair em busca de um lugar onde pudesse comemorar o ano novo.

Fui comer e, na volta, convidei Cèdric, que iria ficar só, para caminhar pela cidade até encontrarmos alguma lugar para comemorar a entrada de ano novo. Mas, a rua estava morta. Nao havia quase ninguém. Paramos em um bar e ficamos conversamos. Eu estava muito cansado e me custava falar francês, embora a comunicacao estivesse boa.

De repente, chegaram os três brasileiros com quem compartilhei o quarto em Santiago. Só um deles veio falar comigo, Moisés, os outros me cumprimentaram de longe.

Cèdric e eu ficamos aí e, quando faltavam 5 min. saímos do bar. Eu queria refletir um pouco sobre o ano que passou e pensar em como poderia ser o ano que comecaria.

Por alguns poucos minutos consegui fazer, mas nao como queria, e comecaram tocar sirenes de polícia e de ambuläncia, as pessoas saíam de casa e comecavam a soltar fogos...

Apenas cumprimentei Cèdric e continuamos andando. Queria pensar... nao consegui. Apenas consegui perceber que a entrada de Ano Novo teve uma beleza diferente, serena, tranquila... era bom, mas era como eu nao esperava.

Chegamos ao hostel e algumas pessoas estavam bebendo e escuntando música, dancando... esperando o melhor momento para irem a outro hostel onde tinham uma festa de ano novo.

Vim para o computador e comecei a escrever, ao tempo em que entrei no msn e encontrei Verónica, minha amiga argentina casada com Dieter, um amigo norte-americano. Conversamos um pouco e ela se foi. Precisava trocar as fraldas de sua filha Sofía e colocá-la para dormir.

De qualquer forma, para mim, foi incrível, depois de anos sem conversar, poder
falar com Verónica e verificar que nossa amizade ainda existe. E tudo ocorria exatemente, no dia em que serenamente estava só, mas nao solitário, numa entrada de Ano Novo.

Depois que todos saíram, ficamos Maury (o cara que trabalha no hostel) e eu conversando sobre música brasileira, pusemos Lenine pra tocar e ficamos vendo fotos de Aracaju e de outras cidades brasileiras. Mauri quer muito conhecer o Brasil e, segundo ele, as pessoas da Argentina amam e admiram o Brasil. Aliás, todo o tempo, eles tratam os brasileiros como "hermanos". Eu, particularmente, nao vejo falsidade nisso. Eles sao sempre muito alegres quando nos vêem, demonstram sua satisfacao em nos receber e conversam sobre o Brasil, querem saber...

Bom, mas com isso tudo o que dizer do Ano Novo?

Eu penso que alegre e tranquilo. Sereno e feliz, como deveria ser a vida.

Nenhum comentário: