sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

A caridade comeca quando acaba a justica

Dizem que todos os caminhos levam a Roma, mas o certo mesmo é que quem tem boca vai a Roma. Em Santiago, é muito importante saber disso, porque, dependendo do terminal de ônibus em se pare, nao há qualquer informacao sobre a cidade, mapas, panfletos... nada.

Há rodoviárias pertencentes a empresas de ônibus, ou seja, privadas, em que nao há quiosques para informacoes turísticas. Se vc pergunta algo, ninguém sabe, pode ou quer informar.

O primeiro que te dizem é: voce precisa ir para a rua. Lá existem informacoes. Mas, como ir para rua se nao sei como me mover na cidade? Ainda mais em uma cidade grande como é Santiago?

Foi assim que me senti quando, ao perguntar na rodoviária sobre como me mover na cidade, policiais, pessoas da empresa em que vim até Santiago, nao sabiam ou nao queriam dar informacoes.

Pelo menos, estava havendo uma espécie de blitz da prefeitura na rua em frente e perguntei a um rapaz que fazia a abordagem dos carros como fazer para encontrar informacoes e ele me ensinou como ir de metrô até a Secretaria Nacional de Turismo.

Um pouco irritado e um pouco arrependido de ter vindo para cá, enquanto atravessava a cidade em busca da Secretaria de Turismo, lembrei das palavras de Germán sobre Santiago. Ele dizia que aqui nao era uma cidade interessante para conhecer pessoas. Todos sao estranhos, corridos, ninguém se olha, ninguém se toca, cada um cuida de si. Talvez, um pouco como Sao Paulo...

De qualquer modo, era bom para que eu mesmo pudesse verificar isso. Afinal, podia ser um pouco de preconceito da parte dele.

Mas, acho que podia estar movido pelas palavras dele. Até me surpreender com a primeira coisa que vi quando entrei no metrô: "la caridad empieza cuando se acaba la justicia".

Isso me deixou pensando sobre que espécie de cidade é essa, o que se tenta fazer agora no Chile com o novo governo. Porque, até onde eu sei, o Chile é um país extremamente católico, que nao permitia o divórcio (nao sei se já permite)...

Fiquei pensando nisso enquanto o metrô abria e fechava, pessoas desciam e subiam... e até mesmo na rua, enquanto procurava a Secretaria de Turismo.

Na Secretaria, fui atendido por uma mulher muito simpática. Me deu mapas, livros com informacoes detalhadas sobre Santiago, cultura, lugares para conhecer...

De forma muito diplomática lhe transmiti todas as reclamacoes sobre a falta de informacoes em locais mais próximos ou dentro das rodoviárias. Ela, atenta, ouviu, mas mudou de assunto em seguida como se isso nao fosse um problema.

Agora em condicoes de me mover pela cidade, tomei novamente o metrô e fui para o HIChile, da rede Hostels International. Fui recebido por uma pessoa nao tao simpática que, de cara, me pediu que pagasse adiantada a permanência.

Depois que paguei e preenchi a ficha de entrada, me deu uma chave sem sequer me indicar o caminho até o alojamento.

Quando perguntei, apenas me disse: é para lá (apontando com o dedo para o lado direito de seu corpo). Cara, como me arrependi de nao ter ido ao La Casa Roja... pelos precos que tinha visto pela internet achei que o HiChile fosse mais barato, principalmente pra mim, que tenho carteira de alberguista.

Acabei deixando as coisas aí e saí para um supermercado. Depois que deixei as coisas no hostel, tratei de ir conhecer a cidade. Andei o dia todo. Fui ao Banco do Brasil ver como estavam o cartao de crédito e conta corrente, depois fui ao Palácio la Moneda, à Catedral, Museo de Bellas Artes, Cerro Santa Lucía, Igreja Sao Francisco, Igreja da Merced, Palácio de Justica, Escola de Bellas Artes, um monte de lugares só caminhando. Em alguns deles, se podia entrar gratuitamente, outros nao. Aqueles que deixavam a gente ter acesso sem pagar, entrava, os outros, apenas passava pela frente, conhecia os arredores...

Depois de andar a tarde toda, voltei para o hostel. Precisava tomar um banho, comer e dormir. Mas, enquanto estava escrevendo no computador, encontrei Camila e Humberto (de Juiz de Fora). Ficamos conversando, eles me mostraram fotos, indicaram lugares para conhecer e, pior, me falaram muito mal do hostel. Achei que isso era coisa de brasileiro que nao está acostumado a viajar para ficar em hostel. Nao levei tanto em consideracao, apesar de já ter me deparado com situacoes que nao gostei tanto, como a falta de simpatia das pessoas.

Em seguida, encontrei Maurício (de Sao Paulo) e mais um monte de brasileiros. Nunca vi tanto brasileiro junto. Por, pelo menos, uma hora ou uma hora e meia, fiquei conversando com Rita (de Porto Alegre) e, em seguida, chegaram Soraia e uma outra (de Riberao Preto-SP). Enquanto conversávamos, uma senhora estava na cozinha organizando as coisas. Era uma pessoa muito mal-educada. Nao conversava, apenas reclamava. Nao dava um sorriso, nao tentava fazer seu trabalho mais prazeroso conhecendo as pessoas (muitas pessoas) que passam todos os dias por este lugar. Apenas, evitava todo mundo com um olhar sempre voltado para baixo, com o corpo retraído.

Neste momento, disse pra mim mesmo. Amanha mesmo saio daqui. Vou procurar o La Casa Roja, onde já tinha reservas (quicá ainda haja vaga), deixar minhas coisas, ir para a rua, conhecer outras coisas e depois ir para Viña del Mar e Isla Negra (onde Neruda tinha uma casa) e voltar pra Argentina.
Ah, mas isso nao significa que Santiago nao é uma cidade bonita... neste ponto gostei da cidade. Nao é tao diferente de Buenos Aires. A arquitetura européia com fortes tracos franceses, está presente aí.

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