segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Parle francais?

Quando o cansaço me fazia acreditar que o dia havia terminado, Germain, Julian e Cèdric (que é um Francês do Tahiti, na Polinésia Francesa - eu jamais havia conhecido alguém do Tahiti), um grupo de franceses que está aqui no Campo Base, em Mendoza, me chama para fazer uma caminhada pela noite da cidade. Eles queriam encontrar um bar para conversar.

Bom, a conversa que havíamos iniciado sobre filosofia, sobre Michel Foucault, sobre a modernidade, sobre direitos humanos, estava tao interessante que resolvi abrir uma excecao quanto a nao sair durtante a noite para continuarmos a conversa. Essa também era uma boa forma de praticar francês e, claro, de conhecer mais pessoas. Ainda mais pessoas tao legais, ansiosas, como eu, por conhecer as culturas dos países latinoamericanos. E, melhor, nada semelhantes a Olivier, o francês que encontrei em Santiago.

Durante mais de 30 min. caminhamos pelas vias mendozinas com movimento até encontrarmos um lugar legal para ficarmos. Os meninos queriam tomar cerveja e, eu, como nao bebo, queria interagir e construir novas amizades. Estava cansado dos dias em que praticamente estive só em Santiago, quase sem conversar, sem encontrar pessoas interessantes com quem pudesse compartilhar momentos da vida.

Falávamos de filosofia, de compreensoes de mundo, de drogas, de comportamentos ocidentais em relacao ao mundo, de ética... falávamos da vida e do modo como as populacoes ao redor do mundo "dialogam" sobre o meio ambiente e como os governos se desresponsabilizam pelas questoes de interesse mundial.

Cèdric parecia querer falar especificamente sobre este tema porque o lugar onde vive é espaco de testes nucleares franceses.

Ao observ´-lo, me parecia muito estranho saber que se é cidadao de um país, mas o lugar onde vive é mantido em condicoes suficientes para ter esta condicao de cidadao negada. Afinal. que espécie de igualdade perante a lei viogora na Franca que permite que certos cidadaos, de certas partes de seu "território" (cidadaos d'otre mer), merecem a contaminacao ou a possibilidade de contaminacao por testes nucleares?

Nao sei se esta é a prova da existência, também em países cujo processo de modernizacao se aprofundou mais, como a Franca, de categorias e níveis de importância entre os cidadaos.

Se esta nao é a ideologia que vigora em termos formais, absorvidos pela lei, pelo menos, sao os termos ideológicos sob os quais se apresenta a reparticao dos cidadaos franceses. Nao sei como se tratam as pessoas da Martinica, na ilhas Maurício, na Córsega... mas, pelo que Cèdric me contou a França, pelo menos para o Thaiti, pra compensar os testes nucleares, nao cobra impostos e manda muitos recursos. O Thaiti, por exemplo, recebe muito milhoes de euros para continuar sob à égide francesa. Mas, a populaçao de franceses, que representa 5% de sua populaçao (os chineses sao mais de 10% - foram trabalhar na cana-de-açúcar), vivem em melhores condiçoes que os demais cidadaos.

Talvez, fosse interessante saber como, de fato, a Franca construiu essa relacao de "igualdade".

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