domingo, 23 de dezembro de 2007

Seria cômico se nao fosse trágico: um Natal cheio de neve no Brasil.


Algumas reflexoes povoam a minha cabeca desde ontem quando cheguei a Valdivia. Mas, agora elas ficaram mais fortes com algumas reportagens que li sobre o caso da transposicao do Sao Francisco no STF, que já relatei, e com o julgamento dos estrangeiros com quem estou convivendo nesta viagem sobre a nossa forma de olhar o Natal. Ontem, Laura se dizia chocada com a forma como retratamos o Natal, com neve, com comidas muito quentes... uma absorcao cega da cultura hegemônica que se impoe e se nos expoe ao consumismo. Nem sequer podemos dar vazao a nossa cultura brasileira, tao rica e diversa nos modos de retratar o Natal, mas que fica sufocada por Santa Claus, neve feita de espuma, pelo vermelho quase bordeaux de todas as coisas que parecem se relacionar ao Natal... Nem nos dao tempo, nem as nossas criancas, de percebermos o Natal por outros olhares. Já no final do mês de outubro comecam a colocar luzes coloridas em todas as partes, simular neve, distribuir Papais Noéis nas lojas, nas ruas... Nossas frutas ficam desprezadas, nossa comida e nossa cultura também. O único que sei de nossa cultura capaz de me lembrar o Natal, porque nao se me permite saber que existe para que, ao menos, tenha interesse em buscar mais informacoes, é que temos o Reisado como forma de retratar o Natal. Isso é muito típico do Nordeste, mas, seguro, deve, haver outras formas em outras partes do Brasil. No caso do Reisado, nao se distribuem presentes (por isso nao interessa ao comérico resgatar e nem deve ser uma responsabilidade dele fazer - é nossa enquanto ser humanos, cidadaos portadores de uma identidade que se anseia negar todo o tempo). Sua história está relacionada ao nascimento de Jesus Cristo e a visita que os três reis magos (Gaspar, Baltazar e Melquior) ao menino Jesus. Sobre o tema, o site da Fundacao Joaquin Nabuco e do governo de Sergipe afirmam:

Dança de origem portuguesa, é representada sempre no Dia dos Santos Reis no ciclo de Natal.

Dançando, cantando e representando, constitui-se de vários episódios ou “partes” dentre as quais destaca-se à do boi. A forma de apresentação do reisado compreende duas fileiras de dançarinas cujas vestes identificam o “cordão azul” e o “cordão encarnado” que disputam entre si as preferências da platéia. O “Caboclo ou Mateus” e a “Dona do Baile ou Dona Deusa” são personagens centrais na condução e no sucesso do folguedo popular.

Luís da Câmara Cascudo, no seu Dicionário do folclore brasileiro, diz que Reisado é a denominação erudita para os grupos que cantam e dançam na véspera e Dia de Reis.

O Reisado chegou ao Brasil através dos colonizadores portugueses, que ainda conservam a tradição em suas pequenas aldeias, celebrando o nascimento do Menino Jesus. Em Portugal é conhecido como Reisada ou Reseiro.

No Brasil é uma espécie de revista popular, recheada de histórias folclóricas, mas sua essência continua a mesma, com uma mistura de temas sacros e profanos.

O Reisado é formado por um grupo de músicos, cantores e dançarinos que percorrem as ruas das cidades e até propriedades rurais, de porta em porta, anunciando a chegada do Messias, pedindo prendas e fazendo louvações aos donos das casas por onde passam.

A denominação de Reisado persiste ainda em Alagoas, Sergipe e Bahia. Em diversas outras regiões o folguedo é chamado de Bumba-meu-boi, Boi de Reis, Boi-Bumbá ou simplesmente, Boi. Em São Paulo é conhecido como Folia de Reis, onde a festa é composta de apresentações de grupos de músicos e cantores, todos com roupas coloridas, entoando versos sobre o nascimento de Jesus Cristo, liderados por um mestre.

Fazem parte do espetáculo os “entremeios” (corruptela de entremezes), pequenas encenações dramáticas que são intercaladas com a execução de peças, embaixadas e batalhas. Os personagens são tipos humanos ou animais e seres fantásticos humanizados, cheios de energia e determinação.

O folguedo do ciclo natalino é comemorado em várias regiões brasileiras, principalmente no Norte e Nordeste, onde ganhou cores, formas e sons regionais.

Em Alagoas, constitui-se numa representação dramática, normalmente curta e pobre de enredo, acompanhada e precedida de canto.

Em Sergipe, é apresentado em qualquer época do ano e não apenas nas festas de Natal e Reis. Os temas de seu enredo variam de acordo com o lugar e o período em que são encenados: amor, guerra, religião, entre outros.

O Reisado apresenta diversas modalidades e é composto de várias partes: a abertura ou abrição de porta; entrada; louvação ao Divino; chamadas do rei; peças de sala; danças; guerra; as sortes; encerramento da função.

A música no Reisado está sempre presente. O Mestre é o solista, sendo respondido pelo coro a duas vozes. Os instrumentos utilizados alternadamente são: a sanfona, o tambor, a zabumba, a viola, a rebeca ou violão, o ganzá, pandeiros, pífanos e os “maracás”, chocalhos feitos de lata, enfeitados com fitas coloridas.

Há uma grande variedade de passos nas danças do Reisado, entre os quais pode-se destacar: do Gingá, onde os figurantes de cócoras se balançam e gingam; da Maquila, um pulo pequeno com as pernas cruzadas e balanços alternados do corpo para os lados, passo também exibido pelos caboclinhos; Corrupio, movimento de pião com o calcanhar esquerdo; Encruzado, cruzando-se as pernas ora a direita à frente da esquerda, ora ao contrário.

Tem como personagens principais o Mestre, o Rei e a Rainha, o Contramestre, os Mateus, a Catirina, figuras e moleques.

O Mestre é o regente do espetáculo. Utilizando apitos, gestos e ordens, comanda a entrada e saída de peças e o andamento das execuções musicais. Usa um chapéu forrado de cetim, de aba dobrada na testa (como o dos cangaceiros), adornado com muitos espelhinhos, bordados dourados e flores artificiais, de onde pendem fitas compridas de várias cores; saiote de cetim ou cetineta de cores vivas, até a altura dos joelhos, enfeitado com gregas e galões, tendo por baixo saia branca, com babados; blusa, peitoral e capa.

O traje do Rei deve ser mais bonito e enfeitado. Veste saiote ou calção e blusa de mangas compridas de cores iguais, peitoral, manto de cores diferentes em tecido brilhante (cetim ou laquê);calça sapato tênis (tipo conga), meiões coloridos e na cabeça uma coroa feita nos moldes das dos reis ocidentais, semelhante a das outras figuras, porém encimada por uma cruz; levam nas mãos uma espada e, às vezes, também um cetro. Durante o cortejo os Reis vêm na frente, logo atrás do Mestre e do Contramestre. A Rainha é representada por uma menina, com vestido “de festa”, branco ou rosa, uma coroa na cabeça e um ramalhete de flores nas mãos.

O Contramestre é o responsável pelo Reisado na ausência do Mestre. Seu traje é semelhante ao daquele, só que menos pomposo.

Os Mateus, que sempre aparecem em dupla, usam trajes diferentes dos outros figurantes: vestem paletós e calças de tecido xadrez, usam um grande chapéu afunilado que chamam de cafuringa, com espelhos e fitas coloridas, óculos escuros, rosto pintado de preto, geralmente com tisna de panela ou vaselina e levam nas mãos os pandeiros. São os personagens cômicos do Reisado, junto com a Catirina.

Conhecida antigamente como Lica, a Catirina é a noiva do Mateus. Veste-se de preto, traz um pano amarrado na cabeça, o rosto pintado de preto e um chicote nas mãos, com o qual corre atrás das moças e crianças.

As outras figuras formam o coro do Reisado, que participam ativamente apenas nas batalhas, nas danças e no canto, quando respondem ao solo do Mestre. Formam duas fileiras simétricas, organizadas hierarquicamente e posicionadas uma do lado direito outra do lado esquerdo do Mestre.

É uma das tradições populares mais ricas e apreciadas do folclore brasileiro, principalmente na região Nordeste.

Ao ler esta história, percebo que precisamos conhecer mais de nosso Natal brasileiro e nordestino, sem neve, com muitas cores e, no lugar de um Santa Claus, o Palhaco Cheiroso.

Viva o Palhaco cheiroso!!!

Um comentário:

Menina dos olhos dágua disse...

"Senhorita Dona Deusa bota o pião no chão
Senhorita Dona Deusa bota o pião no chão
Roda pião, rodeia pião, na palma da minha mão..."

essa canção fez parte de minha infância...
acho q nunca a esquecerei!
^^