quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Caminhos de quixote

Caminhos de Quixote representa o sonho, o "delírio" de alguém que está no mundo de passagem; que sabe de sua inconclusão; que toma o mundo como incerto; que vê a história como horizonte de possibilidades na luta por igualdade e justiça.

É, ao mesmo tempo, o lugar dos "encontros", da "amorosidade", fundamentais nesta grande viagem que é viver.

É o registro de buscas pessoais no âmbito de uma relação com o mundo e com as pessoas enquanto é possível dar lugar à formação e à transformação. Porque nunca é possível alterar a (des)ordem de coisas se se perdem de vista as pessoas, os sentimentos, a sensibilidade; se se entoam cânticos e hinos sem a fervorosidade necessária; se se perde a poesia que está no olhar, na pele, na indignação, na satisfação, no suor salgado que escorre da carne fatigada, exausta, a poesia que se encontra nos encontros e no (re)conhecimento das pessoas.

Afinal,

eu não estou interessado em nenhuma teoria
em nenhuma fantasia nem no algo mais
longe o profeta do terror que a laranja
mecânica anuncia

amar e mudar as coisas me interessa mais
muito mais...me interessa
eu não estou interessado em nenhuma teoria
nessas coisas do oriente, romances astrais
minha alucinação é suportar o dia-a-dia
meu delírio é a experiência com coisas reais

um preto, um pobre, um estudante,
uma mulher sozinha

blue jeans e motocicletas,
pessoas cinzas normais

garotas dentro da noite...revólver:
"cheira cachorro"

os humilhados do parque e seus jornais
me interessam mais

amar e mudar as coisas
amar e mudar as coisas
me interessa mais

um corpo cai do oitavo andar
a solidão das pessoas nessas capitais
a violência da noite...
o movimento do tráfego

amar e mudar...amar e mudar...
me interessa


eu não estou interessado em nenhuma teoria
em nenhuma fantasia nem no algo mais
longe o profeta do terror que a laranja
mecânica anuncia

amar e mudar as coisas me interessa mais

alucinação (Belchior)

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