domingo, 30 de dezembro de 2007

As pessoas têm muito a ensinar

O dia de hoje novamente comecou cedo. Na verdade, o dia de ontem ano terminou.

Quando cheguei da caminhada do dia para Isla Negra, Valparaíso e Viña del Mar, estava cansado, mas havia muitos brasileiros no quarto, como já disse antes. E, por azar, brasileiros que nao estao acostumados a ficar em hosteles mas, sobretudo, a respeitar as pessoas.

Durante todos os outros dias havia muitos brasileiros no HiChile, mas passavam despercebidos porque eram muito discretos. Ontem, no entanto, chegaram muitos brasileiros jovens que pareciam ter conquistado a liberdade pela primeira vez.

Queriam beber, sair, namorar... tudo em excesso. E, era um excesso de mineiros mais falantes do que anunciam as compreensoes clichês sobre a capacidade que teriam os mineiros de falar pouco. Por causa desse clichê, eu sempre me penitenciei por falar demais.

Resultado, nao consegui dormir. Enquanto as pessoas de outros países respeitam a fato de compartilharmos um dormitório coletivo em nao acender a luz, em nao fazer barulho, os brasileiros que ficaram no quarto, nao sabiam o que era isso. A todo momento, vinham para o quarto, acendiam a luz, abriam portas de armários, batiam coisas, embolavam sacos plásticos, abriam e fecham suas mochilas...

Às 5h45 min. me levantei com o sentido de organizar tudo o que precisasse organizar, embora já tivesse feito na noite anterior para nao ter que perturbar os companheiros do quarto muito cedo, e escrever as experiências de ontem.

Quando desci, às 6h30min. tinha outra leva de mineiros que ainda bebiam e conversavam muito alto. Quando um australiano que estava entre eles me viu desperto e pronto para sair a esta hora, veio falar comigo, perguntar de onde era, para onde iria... ao saber que era brasileiro, me apresentou e me deixou com eles.

A partir deste momento, nao consegui a concentracao necessária para escrever, para refletir sobre o aquele dia que ainda reverberava na minha cabeca.

Optei por ir para a estacao de metrô.

Estava fechada, porque, no domingo, abre somente às 8h. Nao sei se ficava alegre ou triste por isso. Por um lado, comemorei o fato de nao ter comprado passagem para o ônibus das 8h, por outro lado, minhas costas doíam à causa do peso das mochilas, estava com fome e cansado.

Bom, mas nada melhor do que uma linda viagem para sanar todos os problemas. Digo um lindo percurso desde Santiago até Mendoza.

O caminho, um sendero por entre as montanhas andinas, algumas com neve no topo, era incrível. Despenhadeiros, subidas e descidas íngrimes, lindas visoes panorâmicas...

Podia esquecer do mundo naquele momento.

Às 15h15min, ou depois de saber que a Argentina adotou, faz alguns dias, o horário de verao, 16h15min., cheguei a Mendoza. O calor era terrível, diferente de tudo o que havia visto até agora. À noite, nao resfria. Parece ser como Foz do Iguacu, um pouco melhorado. Por isso, já estou imaginando o que devo encontrar em Córdoba, em Salta e em Rosário.

Depois de caminhar por cerca de 30min. encontrei um hostel para ficar. Se chama Campo Base e fica na Av. Bartolomé Mitre, próximo à praca da Independência.

De pronto, percebi que o clima era bom. Fui atendido por um rapaz de nome Quico. Muito simpático, comecou a conversar e aí fomos uns 15min. até que me instalei e me pus a esperar para usar o computador.

Fiquei aí por mais de uma hora. Até que, de repente, comecei a conversar com o carinha que estava enviando e-mails e fotos para seus familiares e amigos na Franca. Isso foi suficiente para que ele demorasse ainda mais. Porém, descobri que o cara é muito gente boa. Se chama Germain (da regiao da Bretagne), quase como o amigo que conquistei em Valdivia.

Com ele, compartilhei as minhas inquietacoes sobre o francês que conheci no Chile. Ao mesmo tempo, queria saber se ele pensa da mesma forma que Olivier sobre o mundo, que tudo deve se parecer europeu para parecer bom. Mas, ele foi muito claro ao dizer que essa forma de pensar é idiota, louca, e que nao entendia porque certas pessoas viajam se estao procurando a Europa em todos os lugares.

Gostei da resposta. E, depois de quase uma hora de conversa, gostei de Germain também. Parece ser muito simpático.

Em alguns minutos, quando me pus diante do computador, queria escrever tudo o que era importante sobre os dias anteriores. Estava sedento disso e minhas idéias nao poderiam povoar mais minha cabeca sem se materializarem. Era preciso dizê-las sob pena de perder sua riqueza e suas sensacoes.

Fiquei por quase duas horas escrevendo. Mas, nao me contive em voltar agora da rua e escrever mais.

Era preciso dizer o quanto foi bom sair em Mendoza e encontrar uma feira hippie. À parte a tentativa frustrada de tocar samba (eu gostaria de ouvir eles tocarem sua própria música - os tambores dos Andes, por exemplo), passava por un hippie que expunha seus trabalhos, quando ele comecou a conversar comigo. Ficamos aí um longo tempo conversando, mas o que me marcou foi o início de nossa conversa.

Quando me perguntou de onde era e disse que era do Brasil, me disse que era bom viajar para conhecer as pessoas. E, completou José Carlos (seu nome): as pessoas têm muito a ensinar.

De imediato, me emocionei. Era extamente isso. As pessoas têm muito a ensinar.

Depois, quando lhe disse o propósito de minha viagem, me chamou para ir a sua casa, para passar a entrada de ano novo com seus amigos e com ele. Ir a sua casa, por este momento, nao vai ser possível, mas quem sabe, amanha, no Ano Novo nao nos encontremos.

Esses eram os caminhos de Che. Encontrando pessoas e se deixando levar por elas.

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