sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Santiago com outros olhos

Estava decidido a sair do HiChile hoje pela manha. Levantei cedo, organizei as coisas, tomei um banho e desci para o café da manha. Por um tempo, fiquei conversando com alguns brasileiros que estavam aí sobre as viagens que cada um tinha programado na cabeca, ao mesmo tempo em que falávamos um pouco sobre o comportamento das pessoas em Santiago.

Percebemos que as pessoas têm um carinho pelos brasileiros, mas, normalmente, esqueceram a simpatia em algum lugar.

Maurício, quando falei da possibilidade de ir para a Bolívia, foi extremamente preconceituoso. Falava coisas sobre o povo, colocava seu olhar "civilizado" sobre as culturas indígenas bolivianas e, todo o tempo, falava de uma terra sem lei, movida pela corrupcao.

Engracado é que outras pessoas que estiveram lá nao me falaram coisas ruins do país.

Ao mesmo tempo, como percebi que ele reclamava de tudo em hósteis, percebi que é um cara bem elitizado que nao está acostumado com as viagens sem tantos luxos, apesar de achar que ele nao tem tanto dinheiro assim. É manifestacao pequeno-burguesa mesmo.

Quando, normalmente, reclamo, é da forma como as pessoas nos tratam. Nao gosto de tanta formalidade e nao gosto da distância mal-educada. Quem me tratem bem é só o que espero.

Como nao senti esse trato que busco por aqui, iria buscar em outro lugar. Andei ao La Casa Roja, onde tinha feito reservas para estes dias, embora nao tenha ido diretamente para lá.

Resultado, nao havia vagas. Tinha que esperar até às 13h pra saber se encontraria lugares. Por algum momento, pensei em tentar. Ía deixar minha mochila por lá, iria rodar pela cidade e voltaria. Mas, como tinha vontade de ir para Viña del Mar, achei melhor garantir a dormida. Voltei para o HiChile.

Neste momento, conversei um pouco mais com Matias da recepcao e percebi que, neste instante, era um pouco mais simpático.

Mas, nao demorei. Deixei as coisas no quarto e saí. Iria ao "cerro San Cristóbal" de onde poderia ver Santiago inteira sob o olhar atento da Cordilheira dos Andes e depois, queria conhecer o mercado central.

Caminhei uns 20 min. pela Av. Libertador O'Higgins até a rua Pio Nono, onde está a Escola de Direito da Universidade do Chile. Quando ainda caminhava pela avenida, precisei comprar filme para a minha câmera fotográfica. Parei em uma pequena livraria. Aí trabalhava um casal muito simpático. Fui fazer o pagamento e o senhor comecou uma rápida conversa comigo. Me perguntou de onde era e, quando disse que era brasileiro, muito amavelmente, me desejou uma boa estada no Chile com estas palavras: "que tengas un muy lindo viaje".

Isso me fez feliz. Parecia que só precisava disso para comecar a deixar Santiago entrar em minha natureza. Porque eu, particularmente, gosto muito de cidades grandes e com a arquitetura de Santiago. Mas, nao gosto do jeito que as cidades grandes deixa as pessoas.

¡Adelante!

Enquanto caminhava, percebi placas que indicavam a casa que Neruda fez para sua amante em Santiago. Fui até lá, mas era muito caro pra fazer uma visita guiada.

Resolvi que o melhor era caminhar até o alto do "cerro San Cristóbal", mas alto do que o "cerro Santa Lucía", em que havia estado ontem.

Queria subir a pé. Olhei o caminho por fora e nao achei tao grande. Mas, era íngrime. Durante a subida, sofri um pouco. O calor, a poeria, o sol, o cansaco... tudo era um obstáculo incrível. Mas, eu consegui. No alto, quase já nao tinha forcas para subir até o Santuário da Virgem, embora tenha conseguido.

Aí, descansei um pouco e aproveitei a vista. Ao fundo, para leste, a Cordilheira dos Andes parecia imensa e Santigo minúscula, apesar da poluicao que quase nao permitia que se vissem completamente as montanhas.

Circulei o cerro e vi que ele tinha um teleférico. Me dirigi até lá e pedi informacoes para a senhora que estava na bilheteria. Outra simpatia!

Como nao havia ninguém na fila, comecou a conversar e me explicar o percurso, o que veria... me tranquilisava pelo meu medo de altura. Em certo momento, quando lhe disse que havia subido a pé o cerro. Ela me disse: mas como vc conseguiu? Essa estradinha tem 6km... se você quiser, pode descer pelo teleférico que vai te deixar bem próximo de uma estacao de metrô (a Pedro de Valdívia).

Bom, como estava morto, aceitei o conselho. Mas, quando desci, nao queria ir de metrô. Queria ver Santiago por cima. Conhecer os parques, as ruas, chegar até o mercado central andando.

Mais duas horas de caminhada até o mercado central. Passei por pracas lindas (que eles chamam de parques), à beira do rio Mapocho. Quando encontrei água no parque, tratei de me molhar, para passar o calor e segui minha caminhada.

No mercado central, queria encontrar uma bebida (um suco de pêssego, com trigo e uma banda de pêssego dentro) que eles chamam de de Mote Huesillo. Mas, dentro do mercado, além dos peixes e mariscos, só vi muitos restaurantes caros. Nao me animei em ficar aí. Saí e me pus a buscar onde vendia Mote Huesillo.

Quando tomei o suco, realmente percebi que valia a pena. Delicioso! Geladinho, naquele calor... foi perfeito.

Enquanto estava na barraquinha, oOlhei o relógio pra ver se dava tempo de ir para Viña del Mar ou Isla Negra (onde Neruda viveu). Perguntei as pessoas se valia a pena, mas todas me diziam que era melhor ir amanha bem cedo e passar o dia todo. Embora quisesse ir para Mendoza amanha, acho que essa era a melhor idéia. Nao poderia vir até aqui e nao conhecer Viña e Isla Negra.

Passei no Supermercado pra comprar comida para levar amanha e voltei por hostel. Aí, percebi umas pessoas conversando sem parar. Pareciam ser Israelenses. Sei que falavam de viagens porque entendia quando eles diziam os nomes dos lugares, mas de resto nao entendia nada.

Isso, de repente foi me dando uma agonia... silenciosamente, pedia que se fossem, que deixassem o local dos computadores... eu já estava farto daqueles sons de "r" (com "r" feito no meio da garganta" e de "la, la, la".

Pelo menos se foram e pude escrever mais tranquilo. Pude refletir sobre Santigo com outros olhos.

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