terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Comida caseira e boa conversa

Quando saí no domingo com Horacio, ele me havia convidado para jantar em sua casa na segunda-feira. Esta seria uma forma de ver Mirta e Nicholas (sua esposa e filho, respectivamente). Por isso, a tarde, quando voltei da rua, nao quis sair. Fiquei no hostel conversando com as pessoas e, claro, de olho no relógio.

Foi quando Érica me pediu para acompanhá-la até a lavanderia, onde iria buscar suas roupas. Como era bem próximo do hostel, acabei indo. Fomos conversando muito e ela me contou que hoje teria uma entrevista com o consulado da Inglaterra para conseguir um visto. Ela quer encontrar seu namorado que vive aí. Estava preocupada com a festa que haveria a noite no hostel porque precisava acordar muito cedo. Também, tinha grandes espectativas para a terca-feira.

Voltamos e fiquei tentado falar ingles com um canadense muito muito louco de que já falei antes. Foi muito legal porque ele é muito simpático, apesar de parecer bem fanfarrao.

As 7h20min. Horacio passou para me pegar. Fomos a sua casa que fica en Lanuz, um departamento da provícia de Buenos Aires, especificamente em um distrito chamado Valentin Alsina. Aí encontrei Mirta e Nicholas. Impressionante, como, em um ano, Nicholas cresceu. É um menino de 15 anos com quase um metro e noventa. Mas, ainda mantém a conversa e a fisionomia de um menino muito mais novo.


Mirta, como sempre, muito simpática e linda. Tinha feito pizzas vegetarianas para mim e, todo o tempo, agia como uma mae. Me perguntava de minha viagem, dos meus objetivos de conhecer as pessoas, queria saber o porque disso. Passamos algumas horas debatendo ética, direitos humanos e justica social. Falei sobre as pessoas que já havia conhecido e o que esperava para o futuro, nos próximos dias. Mas também, conversamos sobre a história de nossos países e como, igualmente, estao enredados em práticas desonestas de seus governos, como superfaturamento de obras e favorecimento pessoal de certos grupos, em como tem seus municípios apropriados por famílias tradicionais, falamos da violencia no campo e na cidade e da falta de um debate público e de acoes concretas para a promocao da justica e da igualdade.

Percebemos como o Peronismo e Varguismo tiveram coisas em comum, com excecao de que o peronismo se aprofondou na busca de um estado de bem-estar social um pouco mais que o governo Vargas. Segundo Horacio, se uma pessoa nao tinha casa, sobretudo trabalhadores, Perón lhes dava casa e, se casa tinha qualquer problema, enviava agentes do governo para consertar, se precisava de reformas o fazia...

Ele nao me disse isso, mas imagino que se assemelhe ao Brasil no que concerne a "cidadania regulada". Só os trabalhadores eram cidadaos e mereciam os direitos que o Estado, antes de um colapso social, lhes concedeu. Aqueles que nao foram incluídos na condicao de trabalhadores, eram jogados a caridade pública e perdiam até a condicao de seres humanos. Eram os sobrantes, julgados segundo a moral das elites, sendo que estas nao trabalhavam, porque o trabalho era a negacao de sua liberdade, a aproximacao a categoria de escravo, mas exigia a submissao ao trabalho desumano como forma de inlcusao e respeitabilidade social.

Assim, o trabalho era uma via de inclusao e exclusao. Por ele se justificou a desigualdade entre os trabalhadores, quase sempre alicercada no tipo de trabalho que faziam, mais ou menos importante, segundo a classificacao dada pela elite e pela absorcao de uma certa ideologia puritano-liberalista. É certo que esta ideologia teve seus tracos próprios em nossos países, principalmente no Brasil, por causa da escravidao, mas é ela que uma base importante.

Já passavam das 22h30min. quando Horacio me propos deixar no hostel, porque hoje teria que viajar as 5h da manha. Assim que vimos Mirta, Nicholas, Horacio e eu. Nao fiz oposicao, evidentemente e, no caminho, viemos todo o tempo relembrando os dias em Aracaju, quando eles estiveram aí para o torneio de handbol. Ficamos todos emocionados com a lembranca. Horacio chegou a dizer que havia relatado para todas as pessoas que me havia conhecido e que eu os havia levado para passear em Aracaju, de como aquilo tinha sido interessante, ainda mais por nao os conhecer.

Ele nao compreendeu que aquela tinha sido uma forma de agradecer, de alguma maneira, a simpatia do povo argentino comigo, quando estive em Buenos Aires em 2005.

De qualquer modo, que bom que eles se sentiram bem e que, agora, conseguiam retribuir a simpatia. Podia ser com outras pessoas. Isso nao importa. O que importa é que as simpatias possam ser distribuídas. Que as pessoas possam aceitar umas as outras e faze-las feliz.

As 23h e alguns minutos, chegamos ao hostel. Na porta, Mirta fez questao de descer do carro e me dar um caloroso abraco. Me desejava sorte e me pedia que conhece muita gente, mas, ao mesmo tempo, desejava que eu pudesse conhecer as melhores pessoas e, quando voltasse a Buenos Aires, em janeiro, que telefonasse para eles.

Apesar da saudade e de estar um pouco pensativo, queria ver se Mónica e María José me haviam respondido. Mónica sim, havia feito. Por isso, ligeui para ela e conversamos um pouco para ajustar algumas coisas do nosso encontro em San Martín de los Andes.

Em seguida, subi e havia uma grande festa com Dj e música eletronica para comemorar o aniversário de um rapaz que trabalha no hostel. Havia muita gente, muito barulho e muito cansaco também, de minha parte. Entao, fiquei um pouco, falei com Henrietta, Nick e Nir e fui dormir.

É certo que tive um pouco de dificuldades para pegar no sono devido ao batidao, mas, pelo menos, fiquei na cama, tentando dormir, pensando e absorvido por outra festa, a de encontrar Mirta, Horacio e Nicholas. As quatro acabou a festa do hostel. Mas, a minha está aqui, ainda cheia de música e de uma suave sensacao de humanidade.

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